Kingsman: “A conduta define o homem”
 

Lançado em 2014, "Kingsman: Serviço Secreto" não é apenas mais um filme de espionagem, é uma celebração estilizada do cavalheirismo moderno, onde conduta e estilo se misturam. Dirigido por Matthew Vaughn, o filme satiriza o gênero de espionagem ao apresentar agentes secretos que, além das habilidades letais, exibem um senso de moda e comportamento exagerado, além de um humor sarcástico focado no absurdo.

Usando como base os cavaleiros da távola redonda nos mitos de Rei Arthur, a ideia do filme é transmitir um forte senso de organização e poder por parte da agência de espionagem. A partir disso, entrega um paralelo entre os significados de ser um cavaleiro e um cavalheiro, que, no caso da Kingsman, é a mesma coisa.
 

Legado
 

No universo de "Kingsman", a fachada de uma tradicional alfaiataria londrina serve como disfarce para uma agência de espionagem independente. Essa escolha não é meramente estética, ela simboliza a ligação entre a imagem e a identidade dos agentes. A alfaiataria, com suas raízes históricas na Europa medieval, evoluiu ao longo dos séculos, tornando-se um símbolo de sofisticação e status social.

"Kingsman" mantém essa mística da alfaiataria tradicional, fundamentada em um nome e seu legado. Essa relação é importante para entendermos o poder da agência de espionagem e sua influência naquele universo. Trazendo para nossa realidade, é interessante pensar em como grandes nomes da alfaiataria ainda são influentes e moldam a forma como pensamos a moda hoje em dia.

Casas renomadas da rua Savile Row, em Londres, estabeleceram padrões de excelência que perduram até hoje. A famosa, “Huntsman”, inspiração para a “Kingsman”, chegou a vestir a realeza britânica, figuras históricas como Winston Churchill e Ronald Reagan, além de celebridades como David Bowie, Eric Clapton e Brad Pitt. Uma loja tradicional que perdura até hoje, mostrando o poder de um nome bem consolidado.
 

Postura
 

“A conduta define o homem". Essa frase, repetida durante a história, é central na narrativa de "Kingsman". Os agentes são treinados não apenas em combate, mas também em etiqueta, reforçando que ser um cavalheiro vai além da vestimenta, é uma questão de comportamento e valores.

Essa visão resgata o conceito de “dândi” do século XIX, aqui, representado pelo personagem do Eggsy/Lancelot. Os dândi eram homens não pertencentes à nobreza, mas que através da moda e da postura, buscavam distinguir-se na sociedade, valorizando o refinamento individual.

Em "Kingsman", o terno é, literalmente, uma armadura moderna que entrega aos agentes não apenas proteção, mas também uma postura distinta na sociedade. Essa representação reforça a ideia de que a maneira como nos vestimos influencia diretamente como somos percebidos e, consequentemente, como nos comportamos. A alfaiataria, nesse contexto, não é apenas sobre moda, mas sobre identidade e posição social.

O filme destaca a importância da roupa sob medida na construção da imagem masculina. Um terno bem cortado não é apenas uma peça de roupa, é uma extensão da personalidade e uma declaração silenciosa de respeito próprio e pelos outros. A alfaiataria artesanal, com suas técnicas transmitidas por gerações proporciona uma experiência única que conecta o indivíduo à tradição e à cultura daquele local.
 

"Kingsman: Serviço Secreto" vai além de cenas de ação e espionagem, ele oferece uma reflexão sobre como a conduta e a aparência estão intrinsecamente ligadas na construção do homem moderno. Ao resgatar elementos clássicos da alfaiataria e do cavalheirismo, o filme nos convida a reconsiderar o valor da elegância e da postura ética em uma era onde, muitas vezes, esses aspectos são negligenciados.

Mais do que um simples código de vestimenta, a forma como um homem se apresenta ao mundo comunica respeito, autoconfiança e uma compreensão mais profunda sobre sua própria identidade. A moda, nesse sentido, não é apenas um detalhe estético, mas uma ferramenta de expressão e uma ponte entre a tradição e a modernidade.